quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Bushcraft: Riqueza ou Pobreza?

Bushcraft: Riqueza ou Pobreza?
A algumas semanas atras, eu estava saindo de um curso de bushcraft, carregando uma tralha de equipamentos nas costas, nos ombros e nas mãos.
Levava comigo, entre meu equipamento tático moderno, a mochila artesanal que fiz e ao passar por um grupo de pessoas que estavam por perto, uma moça observou minha mochila e disse assim para um cara que estava lá: "Olha só que legal, a mochila dele. Por que vc não faz uma assim?"
Ele olhou para minha mochila de madeira e disse com um certo desdém: "Ah, eu tenho dinheiro! Eu posso comprar uma mochila de verdade! Hahahaha!"
Passei por eles e aquela frase não saiu de minha cabeça!
Enquanto esperava o uber chegar, fiquei tentando entender aquilo que estava por trás de sua fala e vi, que para aquele rapaz, o conceito de riqueza consistia em se ter dinheiro para pagar por algo que alguém faz para vc.
Olhando para minha mochila de madeira, couro e saco de juta e depois para o jovem de roupas e tênis caros, percebi quão pobre aquele rapaz era. Certamente, não em recursos financeiros, mas em outro aspecto mais profundo.
Para mim, a capacidade de criar itens funcionais a partir da natureza é sinônimo de riqueza e não o contrário. Se vc só dispõe de recursos financeiros para conseguir aquilo que precisa ou quer, vc estará sempre em uma posição de "pobreza", em relação à alguém que é capaz de transformar os recursos do ambiente em objetos e itens funcionais.
O conhecimento e o entendimento práticos do mundo natural enriquecem o ser humano em tantos aspectos que fica até difícil numerá-los, todos aqui.
Continuei assentado, descansando a carcaça, enquanto um sentimento de enorme satisfação e "empodeiramento" tomava conta de mim, por perceber e poder saborear a riqueza que carrego, parte das técnicas e do olhar mateiro sobre as coisas e a vida em geral!
Enfim, numa sociedade cada vez mais empobrecida e dependente de recursos industrializados, o universo mateiro nos torna um pouco mais ricos em um tipo de conhecimento e sabedoria que só quem provou e os conhece, sabe seu real valor!
Bom dia à todos, amigos(as), irmãos e irmãs do mato!

terça-feira, 11 de abril de 2017

Botas Táticas vs Coturnos Militares

Botas tàticas (brasileiras) vs coturnos militares
Durante muitos anos usei coturnos militares no mato (eram praticamente a única opção viável na época) e acompanhei a mudança do velho, pesado e desconfortável "queixo duro" da Alpargatas para os novos modelos atuais, bem mais leves e confortáveis e dos quais me tornei um fã, ao longo dos anos.
Porém, a algum tempo atrás, comecei a usar os modelos táticos mais caros, bonitos e que possuem mais "testosterona" em seu design e estética, o que lhes confere um apelo muito grande. Os preços tbm são bem maiores e variam de 400 a quase mil reais, dependendo do modelo e marca.
Bom, eu sempre fui um destruidor de calçados, desde jovem. Meus tênis sempre acabavam mais rapidamente que de meus irmãos e as atividades que faço no mato, ao longo de minha vida, ajudaram bastante a destruir muitos calçados.
Então, pra mim, preciso de botas que sejam fortes e resistentes, mas leves o bastante para poder usá-las ao longo do dia todo (e as vezes a noite), constantemente, durante o ano todo e em terrenos que podem ser rochosos, alagados, arenosos, de florestas úmidas ao cerrado seco!
Minha decepção foi grande, ao perceber que nenhuma das botas táticas que eu tive, aguentava o tranco da mesma forma que os coturnos que estava acostumado a usar. A que durou mais, resistiu por um ano e meio e na primeira vez que a lavei, ela descolou e abriu as duas solas. Seu valor está em torno de uns 500 reais. Além disso, uma vez encharcadas, levam dias para secar.
Tbm tive 2 pares de uma outra marca, na mesma faixa de preço e em menos de 1 ano todas rasgaram e tiveram ruptura da estrutura interna de seus calcanhares, inutilizando seu uso. Vi isso acontecer com botas da mesma marca, de outras pessoas.
Isso me fez avaliar o custo benefício das botas brasileiras normalmente apontadas como boas, para o uso pesado.
Hj penso que elas são apenas para ações "táticas" urbanas, em cenários de relevo menos acidentados. Creio que no asfalto elas tem uma performance melhor que nos perrengues do mato, onde elas sem dúvida, deixam a desejar, pelo menos se considerarmos a frequência de seu uso e aquilo que é exigido delas nestes ambientes.
Além disso, pelo preço de uma bota tática é possível adquirir 3 coturnos extra-leves, que vão resistir ao menos 3 anos de pancadarias constantes, mas sem o apelo "desert warrior" no estilo SEALs. Soma-se a isso, o fato de que os coturnos são mais leves e secam muito mais rapidamente que as botas táticas que usei.
Uma única desvantagem dos coturnos, em geral, são suas palmilhas baixas e desconfortáveis, que fazem doer os pés em longas caminhadas, porém, com o tempo e a experiência, acabei aprendendo como resolver este ponto negativo dos coturnos. Sempre compro um número maior que o meu e coloco dentro uma palmilha ortopédica ou de um bom tênis de corrida e, assim, eu elimino o problema do desconforto.
Enfim, após alguns anos tentando achar um substituto para meus velhos "boots", abandono as tendências da "moda-sou-foda-pra-cacete" e volto para os coturnos de couro e lona, simples, leves e tradicionais, que, em geral, prefiro nas cores marrom e verde!
Imagino que haja outras marcas de botas táticas (talvez, melhores que as que testei), mas estou certo de que seu custo é proporcionalmente ainda mais elevado, o que me desanima muito para adquiri-las, fazendo com que eu as deixe de lado e prefira aquilo que o tempo e a experiência em campo já me ensinaram.